8/25/2010

rapidinha

levei minha amiga na sua última leitura de poesia,
disse ela.
sim, e daí? perguntei.
ela é jovem e bonita, disse.
e? perguntei.
ela te
odiou.

então ela se recostou no sofá
e tirou as
botas.

minhas pernas não são tão boas,
ela disse.

tá bom, pensei, minha poesia não é tão
boa; as pernas dela não são tão
boas.

empatados.


Charles Bukowski, in Mocking bird wish me luck.
Tradução de Kevin Kraus.

transpiração 1













chegam em casa, não entendem. não há mais nada além da vegetação cobrindo o corpo. verde claro, médio e escuro. verde oliva e verde guerra. verde roxo azulado. verdi. veredas. vermout.

Impressões (pobreza)

A pobreza não particulariza configurações. Pobre na capital, pobre no interior e litoral. Celular de twiter, boné bermuda, cascão emo cabelo mano, mix ambulante de marcas. Chupa cabra moderno alimentado a isopor e raiva, vaga a mente pelas ruas da cidade. O paralelepípedo na frente de casa identifica que estou em Valinhos.

Impressões (taras)

Nesta nova cidade, sempre que observo as pessoas no comércio, trânsitos, cartórios, lanchonetes, tenho a impressão que aparentemente são despidas de sexo e tesão e que, lá pelo poço, são profundamente depravadas. Casais beirando outros casais por todos os lados. Moças poliéster arrastando cláusulas pensando no próximo churrasco de pênis. A leitura, particular e completamente sujeita a enganos, evolui até os minúsculos sacolejos de ombros, para as viradas de cabeça, risadas código. E que leite tirar dessa teta? Comprar uma rede cearense, deitar o esqueleto e animar-se nalgum enredo menos prosaico.

Impressões (reconhecimento)

Logo que cheguei na cidade percebi a diferença nos olhares. Na grande cidade, previsíveis e diretos, aqui furtivos, estrábicos, tímido-falsos, carregados de nebulosa malícia. As pessoas cofres que aparentam inocente felicidade e calma, revelam-se em calculadas esguelhas que, para o leitor de manchetes, desfilam imperceptíveis. E o que mora lá dentro daqueles olhos? Quem vive lá? Nesta cidade ainda mistério preciso saber de quem se trata. Conhecer os avisos de pálpebras para desviar de futuras cegueiras, de tombos bananas e de pisadas na merda. Tarefa diária é decodificar as agruras de um meio tão turvo construído em céu límpido e aparente cristalino.

becedário

bar

Remédio de copo
Dor de estar
Fígado suicídio
Prazer amarrado


boxe

Esquiva de olho
Três contras
Peso coitado
Murro sentava


bisca

Luzia tingido
Físico galo
Pele inegável
Nota falsa


bamba

Pinga sonora
Lata de sono
Tampa cacete
Morro de céu  

reloaded - recarregado

olá impossíveis leitores, olá invisíveis leitores. retomo este armário desde outro porto. do concreto ao paralelepípedo. tão longe tão perto da metrópole. tão triste quanto antes, mas com tristeza lavada, com cheiro de manjericão. leiam e por favor, não me encham o saco.