4/22/2010

esses nunca me abandonam...

Dialogue - 2 dollmakers by Gregory Corso

Let´s not use eyes anymore.
Folly!
Let´s use cans instead.
Say next no mouth!
No mouth; why not?
Fool! Fool!
Let´s use a piece of hose.
And what about the nose?
A chair is better.
A chair for the nose!?
Or two chairs for the ears.
Fool! Fool! Fool!
And the legs, the arms, why not suitcases?
Suitcases?
Yes, and for the body, why not a staircase?
Fool! Fool! Fool!
Good God! And for the hair we could use a sink!
Hmmmm, and for the dress we could use a meat truck.
Right!
Sure, and for the hat we could use a wall.
Right! Right! O Alberto, I love you!
And for the fingernails we could use racetracks.
Yes, and for the toenails, why not mattresses?
And the eyebrows, we could use blockbusters.
Ah, Alberto, and the stockings, what about the stockings?
What about them? There´s always abandoned farms to use.


Diálogo - 2 bonequeiros de Gregory Corso

Não vamos mais usar olhos.
Idiota!
Vamos usar latas no lugar.
Agora diz: sem boca!
Sem boca; porque não?
Idiota! Idiota!
Vamos usar um pedaço de mangueira.
E o nariz?
Uma cadeira é melhor!
Uma cadeira pro nariz!?
Ou duas cadeiras pras orelhas.
Idiota! Idiota! Idiota!
E as pernas, os braços, porque não malas?
Malas?
É, e pro corpo, porque não uma escadaria?
Idiota! Idiota! Idiota!
Bom Deus! E pro cabelo a gente poderia usar uma pia!
Hmmmm, e pro vestido, a gente podia usar um caminhão de carne.
Isso!
Claro, e pro chapéu a gente usa um muro.
Isso! Isso! Eh, Alberto, eu te amo!
E pras unhas a gente pode usar pistas de corridas.
É, e pras unhas dos pés, porque não colchões?
E as sobrancelhas, a gente pode usar bestsellers.
Ah, Alberto, e as meias-calça, o que fazemos com as meias-calça?
O que têm elas? Sempre há fazendas abandonadas pra se usar.

tradução de Kevin Kraus.

cidade
















daqui a visão é essa! um emaranhado de janelas cheias de pessoas que não quero conhecer. Um sufocamento planejado e caro. é deste pequeno espaço que vislumbro um dia te deixar, cidade natal. é daqui que faço meus planos de abandono e de esquecimento. lá na rua muitos ainda acreditam que isto existe, que ela é real. pobres. pobres demais para perceber que já acabou faz muito tempo.

4/15/2010

sapatos

quando se é jovem
um par de
sapatos
de salto alto
ali
sozinhos
no armário
podem esquentar teus
ossos;
quando se é velho
é apenas
um par de sapatos
sem
ninguém
neles
e nada
mais.

Charles Bukowski
Tradução de Kevin Kraus.

sorte

o que não está bem nisto
tudo
é ver as pessoas
tomando café e
esperando. eu
inundaria todos
de sorte. eles precisam disso
mais do que eu.

me sento nos cafés
e os vejo
esperando. suponho
que não há muito
mais o que fazer. as
moscas sobem
e descem as janelas
e nós bebemos nossos
cafés e fingimos
não olhar uns
pros outros. eu
espero junto deles.
entre o movi-
mento das moscas
as pessoas passam.


Charles Bukowski
Tradução de Kevin Kraus.

DETESTARTE

 Esta é uma série de notas que ignoram qualquer modéstia a respeito da arte.

1. A modéstia é a ruína da arte.

4/13/2010

Sendo Pago

O pequeno pianista ao
piano do bar é

pago pra sorrir o tempo
todo que toca e

a reluzente puta
no vestido Dior é

paga pra gostar quando
tem que deitar com o

porco gordo e ele foi
pago pra vender

seus parceiros nesses
negócios famosos e eu

o que ganho quem paga
o poeta pelo poema?

tradução: kevinkraus

getting paid: The little man at the / piano in the bar gets // paid to smile all the / time he is playing and // the glistening blonde / in the Dior dress gets // paid to like it when / she has to sleep with // fat & ugly and he got / paid for selling out // his partners in thouse / famous deals & I what // do I get who’ll pay / the poet for a poem?

James Laughlin

O velho Dostô

Sempre que sua vida estiver uma merda, leia Dostô! Ele vai te mostrar que, nada, absolutamente nada do que você considera problema, se compara a viver na Russia no séc. XIX. E não é só por isso, mas pelo texto, pelo murro na cara verbal que você merece, ao achar que é um coitadinho, que sofre, que tem uma vida miserável, que ninguém te entende. Leia o cara, ou vá se foder.

lamento

nobody reads my blog

4/06/2010

trava língua
          da lua e
            do sono
               de língua
        de sonho
do trovador

olhos e boca fascinantes
de um bem querer tão distante
sofro por te ver sofrida
meus sonhos que não têm vida
amar é estar doente
sofrer é sempre presente
querer é não poder mais fugir
teus olhos indicam onde não ir.

lomba

a lomba depois de briga é forte.
a lomba cresce durante o dia e atinge o pico na hora do almoço,
quando a fome e a dor no corpo, de mãos dadas,
tornam a vida insuportável;
é nesse momento que se deve vomitar