12/19/2011

com frescura ou sem frescura?

almoço no meio da turba
o João e suas cruzes de malta na parede
Luiz e seus carrinhos de madeira
sob o balcão rabiscado de lápis
balbucio melancólico às 14:30
quando o sol que bate no largo
entra pela rua do boticário
espalhando um certo desânimo...

saudades de pedir um paissandú acompanhado de um mate,
com frescura...

heman e shehá

eu mando mesmo
chego chegando
nem sei falar português, mas eu falo que nem um burguês
chego detonando você
sou teu chefe e pára
minhas costas estão chicoteadas
ela sabe guiar meus passinhos
a coleira tá sempre apertada
o mal reina
e gostamos da vida assim, espinhosa
os outros engolimos
e você fica quieto.
a chuva rega
as flores
do pano de prato

12/15/2011

12/13/2011

anticlimax

era um lugar que já fez sucesso, agora praticamente em ruínas, vive de ocasiões vagas e duvidosas. contratado foi pra servir aos mais de 40 funcionários bebidas e comidas, um pouco de música e ciceronear o festejo de fim de ano, e, agregado a este uma troca de regalos. E lá estavam todos eles ao fim de uma segunda gorda, em mesa larga sentados num tipo de fileira indiana, rodeados dos infinitos mosquitinhos nascidos das chuvas breves de dezembro, servidos pelo singular garçom de ocasião. Combinações inexatas de valor resultaram em cervejas quentes servidas copo a copo e salgados de festas esquecidas da infância dura no interior, pasmem ao saber que o proprietário do estabelecimento servia-se dos duvidosos quitutes e mastigava em desdenhoso compasso encostado no batente, observando os clientes em balburdia comportada. Uma espécie de sujeito tocava guitarra e deve-se fazer uma pausa aqui para expor o fato: cabelos brancos, cara amassada e vestido como se tivesse saído de uma oficina mecânica, a guitarra surrada disputava os sons com um computador (laptop) no banquinho que reproduzia o restante da banda que deveria estar ali... As músicas não eram. E lá estavam eles a divertir-se em pleno medo, sem saber ao certo os nomes uns dos outros, sem conhecer as origens do próximo ou nem mesmo porque aquele momento se fazia necessário, tragavam aos goles surdos e engoliam a pasta frita que lhes era oferecida sorrindo um não sei qual prazer. A certo momento parou o panda de guitarra. Discursos breves em tons jocosos misturados a uma determinista noção de pertencimento destilaram pelo microfone ossudo. Naquele instante sabiam que nada daquilo tinha significado, mesmo que não soubessem que isso se passava de forma imperceptível pra maioria deles. Tristes trópicos são hoje, nessa troca de gentilezas que só a química do álcool permite e no calor de um abraço que tardes de verão fomentam. Tudo passou rápido então, fotos e olhos e presentes feios, e gestos mal preparados e disformes sorrisos pastel. Acabou cedo, e isso foi a notícia boa do início de mais uma noite no hemisfério sul.

12/07/2011

Dr. 8 (in memoriam)

Palitão de dentes
aquele doutor jogava bola
mudou tanta gente e tanta história
mandou pra cucuia essa besteira de ser displicente
passou por cima de todos os monstros que matam a gente (povo)

driblava um copo aqui e outro ali
pra matar no peito a sede de ser mais humano
foi embora deixando um campo vazio
que precisa de mais humor, mais caráter, e mais tutano...

12/02/2011

a vida como ela é...

das duas uma
ou você se joga
ou você arranca os cabelos pensando em como deveria ser...