3/13/2012

o gosto da carne se sente no dente
na língua fica o gosto do presente
o verão se despede
espinhos do limoeiro
me acordam do sonho

olhar para trás

quinze litros de diesel nos meus pulmões
as estradas nunca estiveram tão distantes...
acendo um fósforo e todas as faíscas rasgam a retina
meu cigarro apagou em 2007
arranco vários nacos de cera do ouvido por dia
é de cor mel e cheira a abelhas mortas
as costas agora doem toda vez que saio do banho
pesam duas toneladas nos lombos
será que um dia virá a gota?
quinze mil litros de cachaça no fígado
que ainda resiste empedrado numa das minhas costelas
o resto eu não sei

ao olhar para trás sei que ainda vejo os olhos da escuridão aproximando-se
cada voz que ouço traz um pouco de esquecimento
então sigo maltratando a casca

foi feita pra estrada esburacada!

3/09/2012

rasgo de alma

queria ter uma tesoura bem afiada
pra picotar um pouco da minha alma
plantar as sobras e ver se brotava
um pouco da mais pura calma

queria saber conversar com as coisas
me entreter, numa espécie de sonho
esquecer um pouco que sou de carne

maravilha seria ter-me em pó e poder flutuar
um fuga descente, corrente bem quente
subiria pra bem longe lá no fundo do mar

e quem sabe encontraria bem enrugada,
encharcada e cheia de estrelas do mar,
aquela minha alma triste que esqueci de plantar.