12/31/2013

farewell

que este ano podre e maldito
seja anulado, esquecido e apagado
absolutamente bizarro e infinito
foi seu prolongado negro gramado

pastei nele como um velho cavalo
perdi muito, bem dizer, a baciada
bens, dinheiro, tempo atravancado
o pior de tudo - minha mãe, tão amada!

mas como dizem por ai, há esperança
e no fim desta absurda, ogra noite
um pequeno saldo me faz vizinhança:

termino o ano sem levar o açoite
de acabar desempregado, que caralho
consegui um trampo, mas sem salário!







12/30/2013

tem dias que dá vontade de subir lá no alto do impossível distante
fazer dessa distância uma levíssima despedida de tudo
sumir sem deixar nem o cheiro nem a lembrança nem mesmo o sonho
sem despedidas e sem quebrar vidros e sem aquele gosto amargo típico
mais tarde, quando toda a taquicardia tiver passado a vontade se restaura
e no infinito flutuar longínquo 
pode-se revelar o verdadeiro e autorizado indivíduo

certamente não se pode comprar.

12/29/2013

los amigos lejanos

tem um em belém
fugindo de seu outro sem ser ninguém
tem outro no sul
caçando, comendo tatu
tem mais um em sampa
entre um pastel e um samba
tem o que mora no copan
que ja voou de panam
outro que vive na granja julieta
no 5x1, cercado de ampulhetas
mais aquele que vive em barão
poeta forte, dos bão
um véio que tá em bh
não bebe, tá ficando gagá
outro doido lá no rio, carioca
que salga a barba na mandioca
outros dois na cidade dos figos
enroscados em seus filhos
e outros tantos que morreram
não porque escolheram

amigos a gente sempre tem por ai
e quando dá a gente abraça e conversa,
mas o duro mesmo dessa vida perversa,
é a solidão que vive dentro de ti.


londrina

para quem mora em londres -
menina
para quem mora em sampa -
cocaina
para quem mora no rio -
serpentina

londrina nas retinas do meu horizonte azul despedaçado!

no meio campo
um sol
desgrama

2.0.1.4

título
subtítulo
afunda o país
em busca
de
substituto


12/28/2013

sempre corretos, donos da certidão e da felicidade, guardiões da prisão dos miseráveis

quanta miséria carregam os donos da verdade
que levantam a bandeira do otimismo e sorriso fácil
que esmagam com sua pretensão a todos os desiguais
suam energia e luz para dizer o que é certo e errado

esses que sempre sabem a verdade e se dizem deus
violentam na surdida a natureza diversa dos homens
do alto de seus tronos e estáveis rotinas amenas
ditam as regras do que é ser feliz, e do que é ser triste

sabem tanto, soam mágicos, são o supra-sumo da certeza
até que uma pequena espinha surge na ponta do queixo
e desaba o mundo de neuroses por sobre seu rosto
a previsível miséria alheia é agora seu fardo momentâneo

como resolver o problema da aparência, meu deus!
escondem-se na alcova, fecham as cortinas
chamam por um milagre que lhes devolva a pura face
aquela que nega qualquer resquício de tristeza

rotular é a maneira mais eficiente de se fazer dietas.

12/24/2013

nem se fala
vento rude
cidade vazia
uma alma desnuda

véspera sim
abandonada
vozes de sonho
vertigem e sono

12/20/2013

ela pedia açúcar
e a formiga
sorrindo sonhava
nada mais me conecta
ao planeta
só o vinho, a punheta


tempo

meu tempo
é noturno
um bicho
sozinho
perdido
em silêncio
cercado
de luz
artificial
meu tempo
é passado
distante
do dia
calado
presente
na mente
inundado
de vinho
produzindo
palavras
que não
se vendem
muito
menos
se entendem

12/09/2013

na esquina dos teus seios
encontrei
meu verdadeiro corner


na estrada pra bahia
um cigarro
e a barriga vazia
se aproxima o invernal solstício
carrega consigo uma lágrima
metade morte, metade dádiva
colhida ao norte de um hospício



12/07/2013

Lost in Translation 2


Bar Academia


Ao lado da Academia Brasileira de Letras, no bar academia, os azulejos são azuis com imagem da justiça. Os fantasmas de Machado, Manuel e João encostados no balcão, tomando uma parati e jogando conversa fora. Fiquei fazendo pose, mas nem assim me deixaram entrar na conversa.

a baleia e o submarino

Dizem que o amor é felino
que acontece assim, do nada,
nem imaginam a abençoada,
armadilha louca do destino.

Aconteceu a muito tempo,
no hemisfério nordestino,
um amor de contratempo
entre a baleia e o submarino.

Encontraram-se em alto mar
perambulavam sem domínio
até que os dominou esse amar,

e desse amor doido, bailarino
nasceu nas profundezas do azul
um ser chamado clandestino.



exoesqueleto

o mundo se encheu de pessoas
que são incríveis
que lançam mão da vida
para criar poder
e ter cada vez mais
pessoas que têm propostas
para tudo
o tempo
todo
assim todas as
crianças
são esquecidas
a natureza
os animais
e
o que
se vê além das propostas
é mais um mundo
pronto
para tornar-se
apenas
mais
um
exoesqueleto.
perceber está bem longe de entender

assim

estar está bem longe de ser

12/06/2013

12/02/2013

um correspondente escreveu amargurado:

"em seu último livro
havia 43 poemas
que, ou falavam sobre
a morte diretamente
ou referiam ao tema
de uma
maneira
oblíqua..."

dobrei a carta dele
bonitinha
e coloquei na
pilha
com as
outras

e assim como os
mortos
eu
não
respondi.


a correspondent wrote bitterly:

“in your last book / you had 43 poems / which either talked about / death directly / or referred to it / in an / oblique / manner...”

I folded his letter / neatly / and placed it on the / pile / with the / others

and like the / dead / I / didn’t /reply.

Charles Bukowski in The Continual Condition. HarperCollins, New York, 2009. Tradução de Kevin Kraus.
a música pobre
do rádio
confunde-se
com o frigir dos ovos
e o cheiro
de homens e bacon
a conversa
dos atendentes
resulta em
maravilhadas
frases sobre a morte
de um ator
ruim.


Tem essas ideias de que tudo se arranja.

12/01/2013

dezembro

era pra ser o décimo
hoje é
ultimo
coisa de romano
somos todos
manos
nem contar
sabemos

último do ano
pra fechar
a conta
amarga
só se safa
quem vive
o resto
chupa manga
ou masca
gelo

hoje começa
o fim
de mais um ano maldito
cheio de dor
amargura
chuva de granito
agora
é torcer
pra ir embora logo
sem presentes
nem enchentes
só mais um final
suave
natural.

11/29/2013

guerra fria

descobri que sou lido
pela Rússia e
estados unidos
escrevo em português
nada de russo,
pouco inglês
estou bem no meio
dessa folia
numa ilha cercada
por água
fria.

11/28/2013

mantra sutra

amansa meu mantra
descasca minha cenoura
pega na minha vara
suga minha porra

amansa minha verga
senta nas esporas
veja minhas veias
que lá vem a porra

amansa minha pica
doce tua boca fica
enquanto o corno manso
se deleita em meu esporro
vozes
não
me dizem nada
vocês
também não

na sala de espera

enquanto esperava
um chinês passou
olhou
viu e se foi
depois uma chinesa
feia e recheada
fiquei olhando as parades vazias
de uma sala
de espera
no centro de Londres
era um lugar pra ser qualquer
menos a pompa
menos o luxo
o carpete creme rasgado
chineses passando
um cheiro de
inseticida e perfume do oriente médio
fiquei parado
olhando as parades
e fazendo
a minha
parte.

11/23/2013

amor se foi
era um dia jovem, belo
amor morreu
restou um novelo de pó e silêncio
amor perdeu suas vestes
abriu mão das ilusões, das luzes
hoje deita no escuro da cela
e sonha, frio.


11/19/2013

Outonal

A morte me pagou várias visitas
neste feio outono, de frio e torpor
trouxe um pote de sensações mistas,
solidão, saudade, tristeza e dor.

Cada folha caída, abandonada,
me lembra a mãe magra, inocente
ela que sobrou em ser amada
hoje morta, é meu sol poente.

A vida copia a natureza
a morte chega em sua certeza
leva a vida para além do sono

faz do sol um negro outono
acaba com som do doce acalanto
que agora ouço, só, num canto.



para minha mãe.

meu outono é vendaval
externo, gélido, real
dentro também me consome
um ser que nem tem nome



11/17/2013

o meu vazio é oco

walk on the wild side
oh moon!
how beautiful you are

inverno

quinze horas de noite
um som negro de fundo
meu suspiro mais forte
o mar das janelas do mundo

vento que corta e gela
ruas de sombras, de folhas
a noite mingua na cela
pequena das minhas escolhas
falar não é bom
pensar
é salvar-se
dizer esfria
ode a noite
lágrima dia
falar amarra
sinal de pare
na lama

11/10/2013

ricardo que amava monica que amava lou reed
morreram todos juntos
separados pelas horas
e pela distância física
meus queridos se foram
deixaram um vácuo no meu mundo
é hora de plantar.
pelo sim pelo não
cresceram
pêlos na mão

11/08/2013

Pedro Marques



Meu chapa, meu camarada. Poeta de ladeira geral. Come papel e cospe cachaça em verso. Se tem um cara que se envolve, ai está um. Bom de prosa, mas mestre na lírica, no arranjo, na composição. Grande moleque dos ritmos e melodias e um irmão pra todas as horas.

Paulo Henriques Britto

Não é meu amigo. Mas pude ler seus poemas enquanto ele ficava me olhando, quase fungando na minha orelha. É um gênio da lírica. Queria poder encontrar os livros dele aqui em Londres.

T.S. Eliot

Ainda não somos amigos. Meus sonhos cabem nos poemas e toda vez que sento pra beber me lembro dos homens ocos. Meu ser fragmentado consegue conversar com esse cara, eu sóbrio nunca.

Juliana Amaral e Humberto Pio

Juliana e Humberto são casados e escrevem. Ela canta e ele desenha. Seus escritos não se beijam nem se deitam. Humberto escreve com o mínimo. Se pudesse, reduziria as letras do alfabeto. Ele vê. Juliana samba mínimo mas escreve cartas. Curtas, médias, longas, todas ridículas. Alucinada.

Felipe Paros

Poeta visual, delicado. Grande sátiro do cotidiano. Poesia e arte visual, amigos estranhos, odeia sua barriga. Abandonou São Paulo.

Pedro Nuno Furtado


O poeta português que coleciona objetos das mais variadas gradações de inutilidade. Mestre em amarelar ambientes. Tem aversão a comida e suas unhas podem perfurar a carapaça de um crocodilo. Habilidoso sonetista. Lírico e sujo.

Camões


Grande amigo. Sonetos que me matam. Foi nome de uma de minhas camas. Usei para despertar vida em seres inanimados. Investigo.

11/06/2013

púbico

meu público é
peludo
tem idade de lobos
é volátil
sente mas não fala
meu público
goza
perde a fala
mas goza
mete o pau
diz a verdade mas não morre
meu púbico
é púbico
soa
ressoa
verte
pessoa sem rosto

Coxinha desafia chefs e ganha recheios criativos.
Wellington reconhece os grandes nomes do metal pela barba.

novo marcador

vendo motes

11/04/2013

a vergonha chegou sozinha
bebeu, comeu e dançou
tímida se foi, ninguém reparou!
moscas na beira da janela
imóveis observam
os meus restos na panela
eu sou doente
meus olhos e pernas
conversam sobre meus erros
tenho sintomas antigos
de doenças ancestrais
eu detesto
não sei mais esconder que sou assim
longe dos homens
apático ao existir dos outros
já fui sadio
sem o horror estampado na têmpora
dava sorrisos na rua e me permitia
hoje sou doente
abandonei a todos para viver
no meu leprosário.

11/03/2013

Nick Cave and the Bad Seeds

Domingo passado fui ver o Nick Cave. Talvez o melhor show que já assisti, pena ter sido num momento tão ruim, tão triste. 
hoje sou mais eu
uma tarde sem vento
um mosteiro ateu

Atol

ilha
sou
pontal
areia
e
sol

Correspondência

para Monika
Desde o Ribeirão do Meio, no encontro do Tâmisa com o Tietê
Um postal como que aponta: a vida continua após a morte… 
Raiz, ruir, Ruiz
Pralém mar, amar é terno (entre gerações)

Humberto Pio

10/22/2013

não poder cagar é morrer

tocaia

toque
uma
aia
per favore!
perfume azedo no cotoco
pescoço de limão
santo do pau oco no sertão

tarde

talvez
amanhã
hoje
não
outono das minhas retinas
as flores que se foram, folhas amarelam
chuva fria nubla os dias
a cidade fica nua em intervalos
episódios curtos nas janelas
o som das vestes negras pelas ruas
minha cidade se veste de adeus
a longa escuridão da cortina que se fecha

10/07/2013

quem goza acalma
cama e alma lavadas
paira no ar o corpo
um porto sem mar
Um dia eu fui lá no Rio. Tinha árvores e gente e um monte de deformações geográficas. Ouvi um samba num lugar chamado buraco quente e conversei com dois cobradores de ônibus sobre questões universais. Assisti a um jogo na geral com dois amigos de Niterói. Um dia eu fui visitar a praia e não havia lugar pra sentar. O mar estava frio e quando sai da água a pele grudava. Não subi o morro pra fazer amizades e nem me apaixonei, mas um dia eu fui até a barra num ônibus cheio de pretos. Não sabia o que fazer naquele lugar então voltei para estar no Rio novamente. Roubaram meu chapéu numa mesa de bar e desloquei o maxilar pulando do palco numa poltrona de cinema. Um dia fui embora do Rio e ficaram por lá muitos ossos por roer.

10/06/2013

este meio enreda em enleios amenos e esquizofrênicos entre aranhas estranhas entro entresujeitado ao exato eterno escavo escapulários escalopes entrecortados e extremos estréio entrando em ensinamentos

somente um zumbido jazz
nessa rima sem ruído
o som de um pernilongo
perfurado

perverso
a palavra estranha
verso por
fazer

perverto
outra ideia sonsa
verto por
prazer

percorro
o verso todo
perverso
pervertido

9/18/2013

tudo na saia dela me olhava
até os fiapos soltos pulando no ar
eu deitei meus olhos naqueles joelhos
e foi como se fosse um amanhecer
calada e suja abria suas mãos
tentando alcançar meu centro
menino bobo fiquei olhando os dedos
roçando o cordão pendurado do short
assim a tarde espalhou um novo perfume
era noite de dia muito branco esse céu
experimento até hoje o beijo roubado
pequena flor do meu sobrado

to Otto Sander

the angel is now dead
upon his head darkness sleeps
earth and sorrow hand by hand
wings of desire are no more
Nada mais hipócrita que o politicamente correto numa sociedade bárbara.
insônia é vertical

insônia é uma madame da vida

insônia sujeita-se aos horizontes
Dizem que no Brasil 51% da população é gorda. É a discussão do momento nas tevês abertas e obviamente o show de horrores fica completo com as atrocidades faladas nesses programas. Mas ninguém vai lá na raiz do problema: a comida saudável é mais cara, a comida saudável exige mais trabalho e dedicação no preparo, as escolas servem salchicha desde quando as crianças estão na creche, nos grandes centros nos últimos vinte anos o brasileiro passou a se espelhar nos norte americanos quando se alimenta, nas pequenas cidades a falta de alternativas culturais leva as pessoas a adotarem a comida como única diversão, não existe nenhum programa federal de educação alimentar que seja efetivo e que chegue diretamente na casa das pessoas, estamos vivendo o tempo do churrasco, do lanche (uma das palavras mais horrorosas da língua portuguesa e que o estado de são paulo adotou para designar sanduíches gordurosos), do refri, da pizza, dos salgadinhos industrializados e dos feitos pela dona Jéssica empreendedora na cozinha reformada com piso de porcelanato, do hambúrguer pronto para microondas. Somos os novos Americanos, os desbravadores de boca bem aberta, com dentes entrelaçados pelos aparelhos reluzentes, muita anemia escondida nas profundezas dos intestinos e uma felicidade de pipoca instantânea.

9/17/2013

Seis da tarde, o som da nuvem de pernilongos angustia o fim do dia, os pássaros ainda insistem nos últimos pios diurnos, as nuvens se aproximam anunciando o primeiro derramar das chuvas. Um silêncio humano toma conta da minha casa enquanto minha mãe dorme em seus ossos. Bem lá ao longe é possível ouvir o retumbe de algum churrasco de gente invisível. Os pernilongos invadiram minha casa porque tudo envolta foi destruído, o igarapé, o brejo, o lago e a mata meio corpo de altura que ficava na frente da casa. Tudo foi murado e feito a imagem e semelhança dos novos donos e o silêncio composto de sapos e grilos antigos é agora um sinal da paranóia, os pernilongos em agulha sinfônica. Agora o que resta é morrer junto deste lugar pra que de alguma forma uma memória distante também seja elaborada em pó e esquecimento.
queria ser deus agora
revisar a matéria
anular os pernilongos
essa sonora miséria

faria um novo inseto
mistura de caos e drama
seria o nome objeto
da tal miséria humana?
umedeceu. pó e cheiro de granja se foram, assim como a fuligem da cana e seus invisíveis carvões. a terra está de boca aberta, a garganta em fenda e cova restaura. árvores somos nós nas folhas enlameadas e o som dos pingos na calha, que dilúvio de sono. um dia após dizer adeus a cidade do câncer me revitalizo numa desordem úmida, nem lágrimas disfarçariam o prazer de me ver distante daquele lugar castigado. no pó residem os seres das rugas, na água eu que ainda me sou liso. a espera pelo oceano de ondas e ventos dança e me acorda de um sonho seco. em breve o gelo e o cinza serão minha paisagem d'alma.

8/26/2013

trato feito
assassino
meu respeito
meu infinito
nas paredes
do palmito
de olhos bem fechados
japoneses clicando
a vida que passa
no lanche feliz
a mosca
repousa
punheta (me)
ou (te)
devoro
agosto
cachorro louco
convento
tarde de frio
loucos do bairro
na beira do rio
a terra na estrada
liberta
em nuvem de poeira

poeira na estrada
a terra
falando aos berros
mato o tempo
no meio do mato
adentro
os garçons são anjos disfarçados.
extravagante
o amor da formiga
pelo elefante

arroto

na fila do banco
na rua
na farmácia
eu arroto
na linha de frente
no retorno
na ala do pronto socorro
meu arroto
resvala a cara do meganha
do rato
do corruptor
erupção de fedor
meu arroto
é só mais um clamor
no fundo do bar
o lobisomem
cura a ressaca
palavra esquisita
fica na boca
não paga a visita
love advice
from someone
not so nice

poor advertise
na mesa a cerveja
formiga
a mão no copo
cigarra fumante
icendeia maridos
o silêncio
chia
insone

6/30/2013

Como eu ia dizendo. Chegar a conclusões é perigoso, na maioria das vezes. Saber algo até o osso é tão improvável. Mas a vida nos ensina algumas coisas, pode ter certeza que no final, vai ter uma exatidão pra enrolar no bornal.
E foi assim que cheguei a uma conclusão, muito minha, muito de todos:

Sempre que me vejo numa situação insustentável (desde um lugar horrível pra se viver até uma incompatibilidade de gênios) a única solução é uma paixão repentina e inconseqüente pra me salvar.

Depois de vinte anos experimentando a mesma saída o saldo são três filhos e uma panelada de corações feridos e fagulhas farpudas. E a obvia conclusão de que não dá certo mesmo. Experimentei todas as variações do gênero e posso garantir que talvez meu egoísmo e minha bipolaridade não me tenham permitido firmar bandeira em nenhuma das ocasiões.

A pergunta então é o que fazer de agora em diante. Ser vegan e participar de terapias coletivas? Parar de beber e pensar na possibilidade de deus? Atravessar sinais vermelhos? Participar da histeria do entretenimento e vestir branco pra sempre? Acumular e mentir?

Não fica claro tão rápido, quando chegamos a uma conclusão certa, como sair da roda gigante. Escrever é um começo, comer menos talvez o seguinte passo. Olhar o mundo, os outros e não ser visto - besteira! Fugir pro sossego é para quem teve berço. Eu sou daqueles que janta o almoço.

A paz. Sair das ciladas sem mesmo ter entrado. Quem sabe agora, com as rugas dominando a maior parte do meu olhar eu possa dar um peteleco na próxima mariposa negra.

 

5/14/2013

rosinha

rosinha era uma moça
pestilenta, grande e feia
salvava somente sua boca
mais bela que a da sereia.

rosinha cheirava a bolor
tinha dias que só era chata
mesmo assim tinha um amor:
um bandido, velho pirata.

quantas noites rosinha sonhou
que as estrelas eram uma latrina
onde sua raiva podia explodir

um dia toda estranha acordou
no espelho a imagem da heroína
e a cabeça do pirata a sorrir.
a chuva de canivete
espalha pela rua
o corpo do moleque

mantra que é bom
tem recheio
cheiro de bombom
a cereja do bolo
repartida
por 150 formigas

saara

sol e areia e reflexo
e nuvens imaginárias
e a mais pura certeza
e a solidão no vento
e a cara enrugada de sal
e areia no céu e na terra
e areia nas veias da terra
e areia permanente em mim

5/07/2013

Finis (Bashô)


Depois de chupar toda
a doce peônia,
uma abelha rasteja
saindo de suas fendas peludas.

trad. Kevin Kraus


Finis

Having sucked deep
In a sweet peony,
A bee creeps
Out of its hairy recesses.

Bashô

Uma Olhadela (Walt Whitman)


Uma olhadela através do interstício agarro,
De uma multidão de operários e motoristas no salão de um bar em torno do fogo final de uma noite de inverno, e eu despercebido sentado num canto,
De um jovem que me ama e a quem eu amo, aproximando-se silenciosamente e sentando-se perto, para que possa me segurar pela mão,
Um longo momento em meio ao ruído do ir e vir, da bebedeira e dos juramentos e brincadeiras obscenas,
Nós dois ali, contentes, felizes em estar juntos, falando pouco, talvez nem uma só palavra.

Trad. Kevin Kraus


A Glimpse

A glimpse through an interstice caught,
Of a crowd of workmen and drivers in a bar-room around the stove late of a winter night, and I unremark’d seated in a corner,
Of a youth who loves me and whom I love, silently approaching and seating himself near, that he may hold me by the hand,
A long while amid the noises of coming and going, of drinking and oath and smutty jest,
There we two, content, happy in being together, speaking little, perhaps not a word.

Walt Whitman