5/14/2013

rosinha

rosinha era uma moça
pestilenta, grande e feia
salvava somente sua boca
mais bela que a da sereia.

rosinha cheirava a bolor
tinha dias que só era chata
mesmo assim tinha um amor:
um bandido, velho pirata.

quantas noites rosinha sonhou
que as estrelas eram uma latrina
onde sua raiva podia explodir

um dia toda estranha acordou
no espelho a imagem da heroína
e a cabeça do pirata a sorrir.
a chuva de canivete
espalha pela rua
o corpo do moleque

mantra que é bom
tem recheio
cheiro de bombom
a cereja do bolo
repartida
por 150 formigas

saara

sol e areia e reflexo
e nuvens imaginárias
e a mais pura certeza
e a solidão no vento
e a cara enrugada de sal
e areia no céu e na terra
e areia nas veias da terra
e areia permanente em mim

5/07/2013

Finis (Bashô)


Depois de chupar toda
a doce peônia,
uma abelha rasteja
saindo de suas fendas peludas.

trad. Kevin Kraus


Finis

Having sucked deep
In a sweet peony,
A bee creeps
Out of its hairy recesses.

Bashô

Uma Olhadela (Walt Whitman)


Uma olhadela através do interstício agarro,
De uma multidão de operários e motoristas no salão de um bar em torno do fogo final de uma noite de inverno, e eu despercebido sentado num canto,
De um jovem que me ama e a quem eu amo, aproximando-se silenciosamente e sentando-se perto, para que possa me segurar pela mão,
Um longo momento em meio ao ruído do ir e vir, da bebedeira e dos juramentos e brincadeiras obscenas,
Nós dois ali, contentes, felizes em estar juntos, falando pouco, talvez nem uma só palavra.

Trad. Kevin Kraus


A Glimpse

A glimpse through an interstice caught,
Of a crowd of workmen and drivers in a bar-room around the stove late of a winter night, and I unremark’d seated in a corner,
Of a youth who loves me and whom I love, silently approaching and seating himself near, that he may hold me by the hand,
A long while amid the noises of coming and going, of drinking and oath and smutty jest,
There we two, content, happy in being together, speaking little, perhaps not a word.

Walt Whitman

5/01/2013

A Terra dos Sonhos (Robert Louis Stevenson)


Desde o desejum e pelo dia inteiro
Em casa entre amigos me rodeio
Mas cada noite eu vou distante
Adentro a terra dos sonhos adiante

Sozinho eu, só devo ir
Ninguém me diz o que cumprir –
Solitário ao longo dos riachos
E dos sonhos os altos penhascos.

As coisas mais esquisitas estão lá pro meu ser
Ambas coisas para se comer e para ver
E muitas paisagens horrendas lá fora
Até, na terra dos sonhos, nascer a aurora.

Tento a saída, a custo encontrar uma via,
Porém jamais chego enquanto é dia,
Nem me lembrar, que seja um minuto
Da estranha música que escuto.

Tradução: Kevin Kraus

The Land of Nod
Robert Louis Stevenson

From breakfast on through all the day
At home among my friends I stay,
But every night I go abroad
Afar into the land of Nod.

All by myself I have to go,
With none to tell me what to do —
All alone beside the streams
And up the mountain-sides of dreams.

The strangest things are there for me,
Both things to eat and things to see,
And many frightening sights abroad
Till morning in the land of Nod.

Try as I like to find the way,
I never can get back by day,
Nor can remember plain and clear
The curious music that I hear.