9/18/2013

tudo na saia dela me olhava
até os fiapos soltos pulando no ar
eu deitei meus olhos naqueles joelhos
e foi como se fosse um amanhecer
calada e suja abria suas mãos
tentando alcançar meu centro
menino bobo fiquei olhando os dedos
roçando o cordão pendurado do short
assim a tarde espalhou um novo perfume
era noite de dia muito branco esse céu
experimento até hoje o beijo roubado
pequena flor do meu sobrado

to Otto Sander

the angel is now dead
upon his head darkness sleeps
earth and sorrow hand by hand
wings of desire are no more
Nada mais hipócrita que o politicamente correto numa sociedade bárbara.
insônia é vertical

insônia é uma madame da vida

insônia sujeita-se aos horizontes
Dizem que no Brasil 51% da população é gorda. É a discussão do momento nas tevês abertas e obviamente o show de horrores fica completo com as atrocidades faladas nesses programas. Mas ninguém vai lá na raiz do problema: a comida saudável é mais cara, a comida saudável exige mais trabalho e dedicação no preparo, as escolas servem salchicha desde quando as crianças estão na creche, nos grandes centros nos últimos vinte anos o brasileiro passou a se espelhar nos norte americanos quando se alimenta, nas pequenas cidades a falta de alternativas culturais leva as pessoas a adotarem a comida como única diversão, não existe nenhum programa federal de educação alimentar que seja efetivo e que chegue diretamente na casa das pessoas, estamos vivendo o tempo do churrasco, do lanche (uma das palavras mais horrorosas da língua portuguesa e que o estado de são paulo adotou para designar sanduíches gordurosos), do refri, da pizza, dos salgadinhos industrializados e dos feitos pela dona Jéssica empreendedora na cozinha reformada com piso de porcelanato, do hambúrguer pronto para microondas. Somos os novos Americanos, os desbravadores de boca bem aberta, com dentes entrelaçados pelos aparelhos reluzentes, muita anemia escondida nas profundezas dos intestinos e uma felicidade de pipoca instantânea.

9/17/2013

Seis da tarde, o som da nuvem de pernilongos angustia o fim do dia, os pássaros ainda insistem nos últimos pios diurnos, as nuvens se aproximam anunciando o primeiro derramar das chuvas. Um silêncio humano toma conta da minha casa enquanto minha mãe dorme em seus ossos. Bem lá ao longe é possível ouvir o retumbe de algum churrasco de gente invisível. Os pernilongos invadiram minha casa porque tudo envolta foi destruído, o igarapé, o brejo, o lago e a mata meio corpo de altura que ficava na frente da casa. Tudo foi murado e feito a imagem e semelhança dos novos donos e o silêncio composto de sapos e grilos antigos é agora um sinal da paranóia, os pernilongos em agulha sinfônica. Agora o que resta é morrer junto deste lugar pra que de alguma forma uma memória distante também seja elaborada em pó e esquecimento.
queria ser deus agora
revisar a matéria
anular os pernilongos
essa sonora miséria

faria um novo inseto
mistura de caos e drama
seria o nome objeto
da tal miséria humana?
umedeceu. pó e cheiro de granja se foram, assim como a fuligem da cana e seus invisíveis carvões. a terra está de boca aberta, a garganta em fenda e cova restaura. árvores somos nós nas folhas enlameadas e o som dos pingos na calha, que dilúvio de sono. um dia após dizer adeus a cidade do câncer me revitalizo numa desordem úmida, nem lágrimas disfarçariam o prazer de me ver distante daquele lugar castigado. no pó residem os seres das rugas, na água eu que ainda me sou liso. a espera pelo oceano de ondas e ventos dança e me acorda de um sonho seco. em breve o gelo e o cinza serão minha paisagem d'alma.