11/29/2013

guerra fria

descobri que sou lido
pela Rússia e
estados unidos
escrevo em português
nada de russo,
pouco inglês
estou bem no meio
dessa folia
numa ilha cercada
por água
fria.

11/28/2013

mantra sutra

amansa meu mantra
descasca minha cenoura
pega na minha vara
suga minha porra

amansa minha verga
senta nas esporas
veja minhas veias
que lá vem a porra

amansa minha pica
doce tua boca fica
enquanto o corno manso
se deleita em meu esporro
vozes
não
me dizem nada
vocês
também não

na sala de espera

enquanto esperava
um chinês passou
olhou
viu e se foi
depois uma chinesa
feia e recheada
fiquei olhando as parades vazias
de uma sala
de espera
no centro de Londres
era um lugar pra ser qualquer
menos a pompa
menos o luxo
o carpete creme rasgado
chineses passando
um cheiro de
inseticida e perfume do oriente médio
fiquei parado
olhando as parades
e fazendo
a minha
parte.

11/23/2013

amor se foi
era um dia jovem, belo
amor morreu
restou um novelo de pó e silêncio
amor perdeu suas vestes
abriu mão das ilusões, das luzes
hoje deita no escuro da cela
e sonha, frio.


11/19/2013

Outonal

A morte me pagou várias visitas
neste feio outono, de frio e torpor
trouxe um pote de sensações mistas,
solidão, saudade, tristeza e dor.

Cada folha caída, abandonada,
me lembra a mãe magra, inocente
ela que sobrou em ser amada
hoje morta, é meu sol poente.

A vida copia a natureza
a morte chega em sua certeza
leva a vida para além do sono

faz do sol um negro outono
acaba com som do doce acalanto
que agora ouço, só, num canto.



para minha mãe.

meu outono é vendaval
externo, gélido, real
dentro também me consome
um ser que nem tem nome



11/17/2013

o meu vazio é oco

walk on the wild side
oh moon!
how beautiful you are

inverno

quinze horas de noite
um som negro de fundo
meu suspiro mais forte
o mar das janelas do mundo

vento que corta e gela
ruas de sombras, de folhas
a noite mingua na cela
pequena das minhas escolhas
falar não é bom
pensar
é salvar-se
dizer esfria
ode a noite
lágrima dia
falar amarra
sinal de pare
na lama

11/10/2013

ricardo que amava monica que amava lou reed
morreram todos juntos
separados pelas horas
e pela distância física
meus queridos se foram
deixaram um vácuo no meu mundo
é hora de plantar.
pelo sim pelo não
cresceram
pêlos na mão

11/08/2013

Pedro Marques



Meu chapa, meu camarada. Poeta de ladeira geral. Come papel e cospe cachaça em verso. Se tem um cara que se envolve, ai está um. Bom de prosa, mas mestre na lírica, no arranjo, na composição. Grande moleque dos ritmos e melodias e um irmão pra todas as horas.

Paulo Henriques Britto

Não é meu amigo. Mas pude ler seus poemas enquanto ele ficava me olhando, quase fungando na minha orelha. É um gênio da lírica. Queria poder encontrar os livros dele aqui em Londres.

T.S. Eliot

Ainda não somos amigos. Meus sonhos cabem nos poemas e toda vez que sento pra beber me lembro dos homens ocos. Meu ser fragmentado consegue conversar com esse cara, eu sóbrio nunca.

Juliana Amaral e Humberto Pio

Juliana e Humberto são casados e escrevem. Ela canta e ele desenha. Seus escritos não se beijam nem se deitam. Humberto escreve com o mínimo. Se pudesse, reduziria as letras do alfabeto. Ele vê. Juliana samba mínimo mas escreve cartas. Curtas, médias, longas, todas ridículas. Alucinada.

Felipe Paros

Poeta visual, delicado. Grande sátiro do cotidiano. Poesia e arte visual, amigos estranhos, odeia sua barriga. Abandonou São Paulo.

Pedro Nuno Furtado


O poeta português que coleciona objetos das mais variadas gradações de inutilidade. Mestre em amarelar ambientes. Tem aversão a comida e suas unhas podem perfurar a carapaça de um crocodilo. Habilidoso sonetista. Lírico e sujo.

Camões


Grande amigo. Sonetos que me matam. Foi nome de uma de minhas camas. Usei para despertar vida em seres inanimados. Investigo.

11/06/2013

púbico

meu público é
peludo
tem idade de lobos
é volátil
sente mas não fala
meu público
goza
perde a fala
mas goza
mete o pau
diz a verdade mas não morre
meu púbico
é púbico
soa
ressoa
verte
pessoa sem rosto

Coxinha desafia chefs e ganha recheios criativos.
Wellington reconhece os grandes nomes do metal pela barba.

novo marcador

vendo motes

11/04/2013

a vergonha chegou sozinha
bebeu, comeu e dançou
tímida se foi, ninguém reparou!
moscas na beira da janela
imóveis observam
os meus restos na panela
eu sou doente
meus olhos e pernas
conversam sobre meus erros
tenho sintomas antigos
de doenças ancestrais
eu detesto
não sei mais esconder que sou assim
longe dos homens
apático ao existir dos outros
já fui sadio
sem o horror estampado na têmpora
dava sorrisos na rua e me permitia
hoje sou doente
abandonei a todos para viver
no meu leprosário.

11/03/2013

Nick Cave and the Bad Seeds

Domingo passado fui ver o Nick Cave. Talvez o melhor show que já assisti, pena ter sido num momento tão ruim, tão triste. 
hoje sou mais eu
uma tarde sem vento
um mosteiro ateu

Atol

ilha
sou
pontal
areia
e
sol

Correspondência

para Monika
Desde o Ribeirão do Meio, no encontro do Tâmisa com o Tietê
Um postal como que aponta: a vida continua após a morte… 
Raiz, ruir, Ruiz
Pralém mar, amar é terno (entre gerações)

Humberto Pio