2/25/2014

hoje acordou um dia cinza lindo, prateado, úmido, cheio de núvens invisíveis formando único lençol fosco. o sol nem se atreve, gaivotas histéricas gritam penduradas nas chaminés seculares e de vez em quando dá pra sentir o vento do norte bater na janela. o vento que vem lá dos fiordes, ou da groelândia, ou de algum lugar onde frankestein possa ainda estar escondido.
Ontem fiz 10 horas seguidas na Serpentine Gallery no Hyde Park para a London Fashion Week! Nada charmoso, descarregamos 6 caminhões e montamos luz e som. Fora isso muito trampo de peão mesmo. Hoje, em Belvedere, bairro na periferia da periferia oito horas numa marcenaria gigante especializada em cenários. Carregamos 5 caminhões e embalamos umas 150 peças para a noite londrina e seus musicais. Daqui a pouco tem mais quatro horas em Oxford Street, num antigo estacionamento transformado em lugar cult, pendurar luz, fazer o cabeamento, esticar carpete, levantar muito peso. Amanhã tem outro, oito horas pra cima , em algum museu, teatro, caverna... Não virei pedreiro, nem operário, continuo o mesmo, mas feliz por colocar o corpo em funcionamento novamente. Ta tudo doendo, os 40 pesam nos joelhos, na coluna, mas voltar pra casa depois do suor ter secado nas têmporas, vendo a multidão interessada no meu avesso, e ao chegar sentir o calor do abraço do meu moleque. Faz bem, me faz sentir vivo novamente, mesmo que pra isso o preço seja alguns esparadrapos nas pontas dos pés e dois diclofenacos pra dormir sem dor.
Nos últimos 70 anos praticamente tudo mudou, a maneira como nos comunicamos (e a tecnologia envolvida nisso), a maneira como nos locomovemos (carros, aviões etc.) e várias outras coisas como a alimentação, o formato das casas, o tipo de entretenimento, até o consumo de drogas e o formato das HQs (os superheróis também se transformaram). A única coisa que ainda se mantém nesses setenta anos é o modelo de aula nas universidades, o professor sentado falando e os alunos sentados, ouvindo. Nas escolas espalhadas pelo países a mesma coisa - os professores vomitando conhecimento (?) e os alunos tentando sentar nas suas bundas que engordam inquietas. E para que o sistema possa ser mantido com as crianças e adolescentes existem os laudos e atestados de TDHA e nas universidades existem os velhos! Disso podemos concluir que: as sociedades, na maioria ocidentais, através de políticas governamentais deixaram de pensar a educação em seu epicentro - a escola. Poderiam ter simplesmente dado as mãos e feito o percurso da evolução, para que hoje, houvesse um diálogo entre todas as atuais performances humanas no mundo real e a própria maneira de se educar. Agora temos um planeta envolto em mediocridade e violência já que foram as corporações que adotaram esse papel educativo e formaram milhões de alunos consumidores. A única maneira de amenizar essa situação é dar gratuitamente educação a todos, via web, a partir de materiais produzidos para serem utilizados por milhares de alunos, de forma colaborativa. Informação em pequenos pedaços que exijam dos estudantes o uso em aplicações do dia a dia, professores que existam como mediadores e pontos de referência, provocadores e magros na retórica. Infelizmente as salas de aula não comportam mais as crianças e jovens deste planeta, eles mudaram, sua constituição física, mental e comportamental mudou. Mas o mundo está cheio de velhos ditadores e enquanto todos eles não estiverem afastados definitivamente desse chão desértico que são os governos estaremos fadados ao controle exercido pela indústria e suas corporações.

um cigarro após o almoço tomando um café no centro e o barulho da cidade retumbando na pele trezentas mil pessoas estranhas na calçada aquela avenida que sobe pelo centro e chega na paulista o cinema da minha vida com pipoca doce e cerveja a piscina quente e gigante e fria atrás do estádio amigos barbudos amigas simples encontros e desencontros empregos malucos com gente normal demais pra ser de verdade amigos esquecidos encontrados no bolso da calça praças e cachorros histéricos dias de chuva ácida e calor festas e bares e lábios de fumaça samba e rock nunca tão inseparáveis dores tão amenas ingênuas quase filho no colo filho na rua filho no fim de semana festas azuis e amigos rosa pedreiros incansáveis e motoristas insanos moto a milhão no corredor paulista cheia de vento e passos tranquilos o peito que estoura de saudade da minha cidade natal

2/03/2014

Leduxa e Alice
deram um beijo secreto
de língua
portuguesa
sem bigode
nem sacode

a mão de Alice tremia
e Leduxa pensou -
caretice!
os lábios eram mornos nas duas
e um sopro de hortelã vazava dos chicletes,
as mãos dormiam entre os anéis...

Leduxa tem doze anos
enquanto Alice sobra nos seios
o presente é apenas um intervalo
que se despedaçada amanhã.




nem deus nem você sabem de tudo
então me deixa
não saber
também

a queixa de quem sabe tudo
é não poder descansar
não saber
é bem

nem deus sabia que faria algo
nem mesmo eu sabia tudo
sou deus em mim
mas algo se foi
um jardim
secou

saber é sofrer muito
nem sei se sofreria.


cosmopolita não
cosmo polite
como polido
não sou
caipira resido