6/22/2016

tentei a teta
torcicolo
tontura
tateei teu tudo
teso toquei o túnel
tonteira
tesão
tantra

metalinguistica

enquanto metia a língua
em teu ânus
calculamos
calculamus
calculânus

por onde ela passa nascem flores

bela tesa bronze
olhos estrangeiros
a rua passarela
a morte da palavra
pedreiros
caminhoneiros
padeiros

estátua castidade
amarela
sempre
Salomé

amarela
comprimido
Pelourinho

amarela
preciso
perdido

1/28/2015

vielas e janelas
espreitam o sol
que reluz nas panelas
varanda alaranjada
um labirinto nos olhos
da namorada
amor de cidade na veia
becos e vielas
os batimentos das ruelas
nas tuas coxas me perco
um entrelaçado de sonhos
suor e pele em vento de popa
teus seios descansam
em minhas pálpebras
meus olhos te respiram
no silêncio do nosso olhar
existe uma canção
doce e azul, como o mar
ser um animal apenas
viver com pouco
bem longe das antenas
no labirinto da cidade
prazer em perder-se
pra depois se encontrar
a ponte se abre
duas gaivotas
na borda do precipício

2/25/2014

hoje acordou um dia cinza lindo, prateado, úmido, cheio de núvens invisíveis formando único lençol fosco. o sol nem se atreve, gaivotas histéricas gritam penduradas nas chaminés seculares e de vez em quando dá pra sentir o vento do norte bater na janela. o vento que vem lá dos fiordes, ou da groelândia, ou de algum lugar onde frankestein possa ainda estar escondido.
Ontem fiz 10 horas seguidas na Serpentine Gallery no Hyde Park para a London Fashion Week! Nada charmoso, descarregamos 6 caminhões e montamos luz e som. Fora isso muito trampo de peão mesmo. Hoje, em Belvedere, bairro na periferia da periferia oito horas numa marcenaria gigante especializada em cenários. Carregamos 5 caminhões e embalamos umas 150 peças para a noite londrina e seus musicais. Daqui a pouco tem mais quatro horas em Oxford Street, num antigo estacionamento transformado em lugar cult, pendurar luz, fazer o cabeamento, esticar carpete, levantar muito peso. Amanhã tem outro, oito horas pra cima , em algum museu, teatro, caverna... Não virei pedreiro, nem operário, continuo o mesmo, mas feliz por colocar o corpo em funcionamento novamente. Ta tudo doendo, os 40 pesam nos joelhos, na coluna, mas voltar pra casa depois do suor ter secado nas têmporas, vendo a multidão interessada no meu avesso, e ao chegar sentir o calor do abraço do meu moleque. Faz bem, me faz sentir vivo novamente, mesmo que pra isso o preço seja alguns esparadrapos nas pontas dos pés e dois diclofenacos pra dormir sem dor.
Nos últimos 70 anos praticamente tudo mudou, a maneira como nos comunicamos (e a tecnologia envolvida nisso), a maneira como nos locomovemos (carros, aviões etc.) e várias outras coisas como a alimentação, o formato das casas, o tipo de entretenimento, até o consumo de drogas e o formato das HQs (os superheróis também se transformaram). A única coisa que ainda se mantém nesses setenta anos é o modelo de aula nas universidades, o professor sentado falando e os alunos sentados, ouvindo. Nas escolas espalhadas pelo países a mesma coisa - os professores vomitando conhecimento (?) e os alunos tentando sentar nas suas bundas que engordam inquietas. E para que o sistema possa ser mantido com as crianças e adolescentes existem os laudos e atestados de TDHA e nas universidades existem os velhos! Disso podemos concluir que: as sociedades, na maioria ocidentais, através de políticas governamentais deixaram de pensar a educação em seu epicentro - a escola. Poderiam ter simplesmente dado as mãos e feito o percurso da evolução, para que hoje, houvesse um diálogo entre todas as atuais performances humanas no mundo real e a própria maneira de se educar. Agora temos um planeta envolto em mediocridade e violência já que foram as corporações que adotaram esse papel educativo e formaram milhões de alunos consumidores. A única maneira de amenizar essa situação é dar gratuitamente educação a todos, via web, a partir de materiais produzidos para serem utilizados por milhares de alunos, de forma colaborativa. Informação em pequenos pedaços que exijam dos estudantes o uso em aplicações do dia a dia, professores que existam como mediadores e pontos de referência, provocadores e magros na retórica. Infelizmente as salas de aula não comportam mais as crianças e jovens deste planeta, eles mudaram, sua constituição física, mental e comportamental mudou. Mas o mundo está cheio de velhos ditadores e enquanto todos eles não estiverem afastados definitivamente desse chão desértico que são os governos estaremos fadados ao controle exercido pela indústria e suas corporações.

um cigarro após o almoço tomando um café no centro e o barulho da cidade retumbando na pele trezentas mil pessoas estranhas na calçada aquela avenida que sobe pelo centro e chega na paulista o cinema da minha vida com pipoca doce e cerveja a piscina quente e gigante e fria atrás do estádio amigos barbudos amigas simples encontros e desencontros empregos malucos com gente normal demais pra ser de verdade amigos esquecidos encontrados no bolso da calça praças e cachorros histéricos dias de chuva ácida e calor festas e bares e lábios de fumaça samba e rock nunca tão inseparáveis dores tão amenas ingênuas quase filho no colo filho na rua filho no fim de semana festas azuis e amigos rosa pedreiros incansáveis e motoristas insanos moto a milhão no corredor paulista cheia de vento e passos tranquilos o peito que estoura de saudade da minha cidade natal

2/03/2014

Leduxa e Alice
deram um beijo secreto
de língua
portuguesa
sem bigode
nem sacode

a mão de Alice tremia
e Leduxa pensou -
caretice!
os lábios eram mornos nas duas
e um sopro de hortelã vazava dos chicletes,
as mãos dormiam entre os anéis...

Leduxa tem doze anos
enquanto Alice sobra nos seios
o presente é apenas um intervalo
que se despedaçada amanhã.




nem deus nem você sabem de tudo
então me deixa
não saber
também

a queixa de quem sabe tudo
é não poder descansar
não saber
é bem

nem deus sabia que faria algo
nem mesmo eu sabia tudo
sou deus em mim
mas algo se foi
um jardim
secou

saber é sofrer muito
nem sei se sofreria.


cosmopolita não
cosmo polite
como polido
não sou
caipira resido

1/31/2014

nem que seja
pra escrever mais esta linha
somente me resta
a página em branco
e um resto de tinta
as vozes estão já bem distantes
são sonhos vazios
meros instantes
meu chão é movediço
lembra um tapete velho
sobre ele deslizo
todos meus receios
as rejeições colecionadas
em potes de geléia
nem água nem uréia nem a mais tenra
ideia
custa mastigar o desencanto de cada dia
pobre daqueles que sonham
que acreditam ter alguma chance
nesta vida de ópio e disputas
cheia de gente naturalmente distante
escrever ainda me salva da morte
me enterra devagar
numa cova quase permanente
de ostracismo e esquecimento
quando acaba esse karma
meu amigo santo?
nem bem sei se sustento
um pranto
ou se engatilho a minha arma
a cabeça dita as regras
mas o corpo desobediente
inventa outras febres
ainda me resta um pouco
de paciência e sono
distrações de um moribundo
que espera o aperto
do gatilho a qualquer segundo.

no horizonte
um ponto negro
deus
defeca
em meu rosto

no sonho
um elefante branco
amassa
minha cabeça

na fumaça
uma música
feita de silêncio e chumbo
preserva
meu pensar

no destino
eu nu
envolto em outro
eu pronto
em
bálsamo

nem que seja por breve momento
o gosto doce da morte
anda passeando, me entretendo.

os frutos todos já se perderam
numa réstia de pó e nada
meus sonhos feneceram,

resta o gosto doce da foice
que corta fora minha cabeça
e me levita com seu coice.


1/26/2014

tanta bobagem
escrita
na sombra do dia
besteira sobre
besteira
amontoados de asneira
redonda gramática
vazia a peneira
só resta ao pó
o nada
desencanto
da história
contada.

tanta bobagem
consolo mesmo
uma viagem
para o esquecido mundo
da vadiagem.









1/23/2014

antes de amar
pense
é bom ter gente

antes de se olhar
tente
é bom ter pente

antes de me ver
sente
é bom ter lente

querer estar a frente
nem sempre
é mero repente




1/20/2014

encontrei jesus lá na vendinha da rua seis. ele me disse que estava sem tomates e que o molho só fica bom se for com tomate fresco. também disse que os molhos de lata causam afta nele. fiquei pensando naquilo e dei um tampinha no ombro do rapaz. seu ombro reluzia de suor e negritude. falei que eram os agrotóxicos. que era tudo culpa do monte de agrotóxicos que estamos todos consumindo, cada dia mais, envenenados todos os dias por baixo do tapete. e Jesus me olhou com aqueles olhos incrédulos e vulgares. olhou pros meus peitos reluzentes que balançavam enquanto eu dizia aquele monte de coisa importante. então, subitamente ele colocou sua mão no bico do meu seio esquerdo e apertou bem devagarinho. fiquei excitada na hora, meu membro enrijeceu. mas eu tinha vergonha de falar pra jesus que eu havia negado minha natureza. falei pra ele que outra hora seria outra ocasião. falei que tinha pressa, pedi licença e sai da vendinha correndo. Jesus ficou plantado com o saco de tomates olhando pra minha bunda siliconada enquanto eu corria e sorria e me sentia super interessante.

1/17/2014

gordura trans

jura que gosta de pastel
come salsicha e bebe refri
com xis tudo na pança sorri
ignora a possibilidade do mel

lambuza a boca no salgado
com formato de falo, pica
a calabresa na boca estica
entra na boca e goela até o talo

nunca viu fruta ou verdura
nem peixe que não fosse fritura
amante do bacon e do chiclete

cresceu num corpo de fofolete
agora prepara a janta pro namorado
seu rabo pronto, reluz defumado.



Célia abriu a janela da sala,
a rua cheia
mulatas de chita
negros de saco
crianças de catarro
velhos e velhas emburrando

"quero um pau no meu cuuuuuuu"

a rua petrificada
olhares dançando entre dimensões
bocas em semi aberto
e um riso risada gargalho
furacão

no parapeito a menina de vinte e dois anos tentava equilibra-se.
muita gente reclama
sente saudade
que não tem tempo
estão precisando
querem mas não podem
sabem que podem se arrepender
juntam medos na balança
sabem-se uma espécie de ânsia
precisam divulgar a vontade
ainda que ponham em risco a vizinhança
dizem em clara mensagem
de sua insistente necessidade

de fumar um cigarrinho do diabo!

1/16/2014

defasagem

uma paisagem pobre
talvez sonho branco
montanha rapelada
secura de horizonte

uma miragem norte
extrema riqueza
ar tátil de cor e forma
infinito estado sólido
desmentido
desapropriado

a cidade natal
é uma ilusão
de quem quer ser de algum lugar

somos de nós mesmos
pertencemos ao corpo
que nos carrega

nada mais
além do útero da mãe
foi lugar natal

1/05/2014

o elevador é a solução do novo corpo.


via bloqueada

na frente do elevador
e nos corredores e nos túneis
nas ruas e calçadas e nas faixas
de pedestres
nas recepções e principalmente
nas entradas e saídas
em frente as portas
nas catraias do metrô
e nas plataformas
nas escadas e nas salas e salões
os humanos estão sempre
de alguma forma torta e impossível
enroscados e seus egos e telefones
e câmeras e filhos e casacos e sanduíches
e a fluidez do movimento das massas

não acontece!

1/03/2014

árvore seca

braços
entre
laçados
desfolhados

corpo
em torta
ereção

a rua te espia
o vento
te cospe

nua
árvore

desvendada.


a noite é geral
somando artérias e distritos
a festa nunca termina nas marginais
somos os gatos necessários
dispensados dos glossários
nossa poesia está na rotineira luta
perdidos e sujos e mal amados
os garçons de fel e de labuta
e carregamos os ossos dos
esquecidos
enquanto difamamos uma trégua
já estamos vencidos
na ansia de sonhar
o veneno uniforme da polícia
atrás das viseiras, a mirar
nas latas de lixo e nas vielas
nos becos mais sujos e nas gamelas
no escuro dos terreiros
mais atrás dos galinheiros
estamos todos unidos num só grito
que adrenalina alguma dá por infinito
agora e ontem nunca somos nada
escorraçados e cuspidos, os invisíveis
seres que habitam tua calçada
uma massa disforme já vencida
louca pra passar só mais um dia
sem ser vista nem cobrada
os vagabundos e vândalos reais
que sustentam desde os tempos ancestrais
a classe cômica que nos dita
econômica e maldita.


1/02/2014

achado

duas garrafas
de cerveja na calçada
abandonadas
pediam por um bico
nem tive dúvida
sai de fininho
não houve apito

agora dormem quietas
na geladeira
amanhã serão abertas
é sexta-feira!