6/10/2010

O Concerto do Silêncio

O silêncio, o vazio e a fragmentação são questões presentes no conto “O concerto de João Gilberto no Rio de janeiro” de Sérgio Sant´anna. Determinar como essas questões suportam o modo de estruturação do texto e sua temática é o objetivo deste curto ensaio.

Um concerto que não houve, uma gaiola vazia e um corte cinematográfico para uma cena qualquer. Partes que se mesclam no conto “O concerto de João Gilberto no Rio de janeiro”, de Sérgio Sant´anna, e que se fundem para utilizar o silêncio como ruído ensurdecedor, o vazio como materialização do que pode existir e o fragmento como um elemento de conexão rápida entre o leitor e o texto.
O autor traz à tona uma história sobre um concerto que não existiu. Isso poderia parecer uma história banal se não fosse pelo artista escolhido – João Gilberto – que utiliza e se faz conhecer pela exatidão do som. O não acontecer do concerto já é um acontecimento. É o próprio concerto – da maneira mais atraente para o artista João Gilberto, reconhecido por sua adoração pela ausência do som. Podemos pensar que a ausência do concerto reflete toda uma discussão a respeito de seu cancelamento – isso faz com que se tenha a mesma sensação daquela do show realizado. Falou-se a respeito, a existência-ausência do show foi diluída no discutir-se o concerto.
A questão do silêncio é de modo sutil associada ao vazio. A gaiola com um pássaro invisível chamado de o “pássaro da perfeição”, as referências a grandes espaços vazios como aeroportos do Rio e Nova York, ao Canecão vazio durante os ensaios e à não realização do concerto. Outra referência que amalgama o silêncio e o vazio é o quadro de Hopper, pintor que tematizou essas duas questões em praticamente toda sua produção artística. É nessa junção entre vazio e silêncio que entra bob Wilson, com seu espetáculo silencioso, que ficam as ressacas do protagonista e que permanecem as dúvidas de como escrever o texto que está sendo escrito.
Porém a narrativa de Sérgio Sant´anna só se justifica ao utilizar a fragmentação como elemento contrário à sua própria designação. Se o que fragmentamos se torna partes do todo fragmentado, no texto é um elemento aglutinador do vazio e do silêncio. “O ruído total equivale ao silêncio total”. As várias vezes que o concerto de João Gilberto foi citado no texto servem para construir o concerto silencioso. A fragmentação dos temas e suas referências constroem um cenário narrativo que evolui para uma grande materialização do vazio (as pessoas, os espaços, e as obras) e do silêncio.
O conto é uma discussão que envolve esses três elementos expostos para que percebamos a narrativa contemporânea dentro de sua própria temática – fragmentada e muitas vezes silenciosa (em relação à perda do referencial a que estávamos tanto acostumados no modernismo e em épocas anteriores). O concerto que não existiu não significa sua não existência, pois ao mencionar que haverá um concerto sua imagem é construída.


Por Kevin Kraus.

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