9/08/2012

sempre feliz
sempre sozinho
comendo o capim do vizinho
sou só detergente
nem de samba
nem de gente

fim de primavera

o pó recomeça
tinge o vento norte,
desce sorrindo
quase esquecendo.
derrete o silêncio,
transtorna o momento

enorme, delgado
mover.
vôo lento...

lágrima
          áspero movimento
            sensível excremento.
gosto das suas nádegas dormindo
gosto dos teus pés nadando nos lençóis
da tua boca abrindo um sorriso
                                                milagroso
gosto da eternidade de tuas sobrancelhas
gosto do sabor dos bicos dos teus seios
                                        sabor perfume
      ...perfume do vento...
gosto da esteira longa e calma
              que as tuas costas formam
gosto de atravessar teu corpo
                 com meu pulso elétrico
      de amamentar tua bunda com meu pinto
gosto de me encostar em teu colo
                                             e sentir que a vida
flui absurda em você

Mococa 3

São gordas. São opacas. Estranhas. Suas cores opacas não celebram nada. Desfile funeral. Que pena é gozar a vida nesta terra sem obstáculos. Mais triste: não há mulheres, nem homens, somente protoinsetos.
Tentativas de alguma vida. São pedaços de um caos pré-submerso, e nos seus carros, e copos, tênis e telefones móveis assumem qualquer vergonha desumana.

Mococa 2

Quem sabe a gente não acorda um dia e só enxergue verde. Na terra das vacas, nem elas enxergam a cor. O olhar de vazio não me assusta mais, e melhor, não me deixa fora nem mal colocado neste mundinho. Olho para as pessoas e escrevo sobre elas como se fosse um desenho qualquer. Estão acabadas logo no começo da vida. Pena ser verdadeiramente inútil numa cidade nula.

Mococa 1

As noites. Completamente desperdiçadas. A única coisa que se pode fazer é encontrar uma empregada na rua, ou ir ao bar dos playboys e vislumbrar a garçonete - uma dúvida no meio do caos. As vezes é melhor chorar, ou beber. Muito...

9/06/2012

ovulo em ti

as guitarras bem mais que cigarras bem mais que 2 ou 3
jantares especulo jantares ovulo em ti
ovulo em ti
ovulo em ti
sofreguidão num tour
bestial cigarro de ouro
saibro nos dentes da gazela
meu touro ataca
ovulo em ti
ovulo em ti
touro sangrento
touro danado
ovulo em ti ovulo em ti
bestial sótão mágico
ovulo em ti
ovulo em ti

terráqueo

desci em marte
acendi um cigarro
puverizei-me

perfume noturno

tua goiaba exala
cheiro
grama
mato de dentro

raiz

bem lá no fundo
no egocêntrico térreo
funciono
roça
a égua em mim

8/31/2012

boto pink boto

saci pererê jump jump jump
iemanjá water water water
mula sem cabeça fire fire fire
curupira frighten frighten frighten

boto pink boto
boto pink boto
boto pink boto

8/26/2012

a hora morta

fim de tarde
domingo
casas em perfeita catatonia
muitas farpas acesas
hora morta
vazio flutua nas casas que se empenumbram
no país do futuro
era uma noite qualquer
fechei o bar e sorri ao contar as notas
teria um pouco de fôlego
pra enfrentar o zoológico diário.
guardei tudo e fechei a porta do galpão enquanto
ouvia as vozes bamboleantes na rua,
e sai no meio da brisa tardia...

uma gata morta repousava na rua
próxima de um bueiro.
tive uma ideia!
desespera
espera sem espera
quão doce tu és tempo
nessa linha tênue de abismo
desespera
retêm os momentos em raiva
oculta a calma da cama
espera em vão

8/19/2012

tempo volta tempo vai
um segundo de sol
outro instante de um

tempo some tempo mula
rosca dos minutos nós
fosco da luta muita

tempo som tempo túmulo
pré sábio do nada
vento dribla que toada
caminhava ao teu lado
e a lua chorava um sal azul
derretiam os latidos ao fundo
e teu sorriso de fada ninja
tinha uma mira de escopeta

dançamos a noite toda ao som das folhas
sempre dando as mãos
àquelas rosas desajeitadas
que sonecavam em nossas pálpebras

8/13/2012

na viagem de trem
vejo o surdo
mudo pra não ver ninguém

poema recortado de uma postagem do facebook

sou assim mesmo
escovo dentes e já é tarde
minha sogra me dá tapas desautorizados na bunda
os peitos um dia devem sucumbir
e teus lábios foram doce ontem a noite

jogo limpo é pra quem pode...
resta pouco para o fim
dois invernos
a base de gergelim

7/26/2012

uma vez eu resolvi escrever
era bem novinho e inocente
queria ser um tipo de gente
queria saber não precisar crescer
então desisti de ser normal
esqueci um pouco da grana
das regras deste mundo banana
levei tanta porrada na cara
e aprendi que todas as dores
nem se comparam a dos amores
continuei impedindo a massa
de tentar me fazer argamassa
e acabei neste blog tonto, safado
cada dia mais rústico, mais aloprado
sempre disposto a quebrar uma regra

a de não deixar que vida seja uma merda!
próximo inverno
eu pulo mais um inferno
quero mais um casulo
nítido rótulo dentro do muro
minha guantánamo é aqui
no meio dos cães e das picaretas
na alameda
pisoteio as pétalas
do mal me quer

6/21/2012

na sampa vazia
o carro do babaca
enguiça o comercial
tua performance é tosca
beijo de lesma
bunda de mosca

hi, cu!

teu cu cheira bem
pode então
cagar, meu bem...

professores assassinos

por menos que a faxineira
daremos as aulas que darão frutos futuros.
por menos que a miséria
criaremos teus filhos do medo.
por menos que um dedo no rabo
criaremos uma casca dura de escravidão e cabresto.
por menos que sobras
daremos o sangue no giz nosso de cada dia.
por menos e sempre menos
seremos o alicerce do mercado de cupins.
sempre por menos
seremos unidos,
pelo menos.

como fazer para que o choro dos bebês resulte em algo produtivo

1. chore junto suas mágoas mais profundas;
2. grite com força mediana o nome daqueles devedores;
3. pense que a força da solidão solidifica os mistérios;
4. saiba que há um fim para tudo.

cordialmente

as mulheres passam com nuvens improváveis
fica um gosto azedo no fim da boca
o esquecimento das passagens mais doces
é o carburador da renovação

ainda haverá um outro tempo...

6/05/2012

jesus não tem cueca no país dos banguelas

domingo cedo elas aparecem
vestidas com seda barata abaixo das canelas
um semblante de misericórdia e desprezo
refletido no couro negro do livro entrebraços
batem as palmas numa forma de ruído
e o som acorda os cães tarados pra desguelar
abro a porta e vou em sua direção
repousam seus olhos sobre minha roupa matinal
engolem seco, tentam desviar os olhos
vejo seus lábios retraindo antes de falarem qualquer coisa
e enquanto olham, sem disfarçar, para o volume
enquanto desviam o olhar do enorme caralho na calça de moletom
elas dizem:

- o senhor já ouviu sobre a palavra de jesus?

e sorrindo, um vento sobe pelos meus pulmões e dispara:

- JESUS NÃO TEM CUECA NO PAÍS DOS BANGUELAS!!

elas gritam misturado com rosno e saem andando em desaforo pudor mentiroso.
chuva de inverno
enxurrada de gelo
resfria esse meu inferno

5/12/2012

suicídio corporativo

O termo explica as atitudes louváveis daqueles que resolveram interromper seus serviços prestados as grandes corporações. Para que haja eficácia no método é imprescindível abandonar hábitos tais como: utilizar templates da antiga empresa, carregar cartões de visita, pensar que se faz parte de algo.
vizinhos bons são aqueles que estão mortos, silenciosamente calados, inexistentes, abaixo da terra e enclausurados em alaúdes apodrecendo. explodir a cabeça de vizinhos deveria ser um dom de cada um de nós. teríamos atingido níveis de sustentabilidade jamais imaginados.
odiar é saudável, esquenta o sangue, que afina e passa melhor pelas veias.

partícula de deus

teu cu
aberto
piscando
saber mais é viver menos feliz, o sorriso é puro quando ignora.
o verdadeiro caos é a nossa cabeça.
insetos no jardim
a terra se renova
no perfume do jasmim

Conforto baixo nível

vou trabalhar todo dia
nem sei o que pensar
a moleza da cabeça
é o conforto do pesar

minha cara de alface
serve de escudo pra viver
o conforto baixo nível
sem pensar nem saber

conforto baixo nível
eu gosto de você
conforto baixo nível
faz mais um pra gente ver

pattern pan

Sininho vai bem
Padrao peter pan
Saiu de fininho
Com andy garcia

Crocodilo pozim
Capitão se já viu
Ganchin no pimpim
Sinin nunca viu

4/26/2012

cravados no jardim
ossos espetam
tomatinhos cereja
esperança é apenas um belo nome.

ao subir as escadas te vi com a cara de massa corrida

ontem você me disse que eu era velho. estive pensando a respeito, estive ruminando o respeito. ontem era um passe de mágica e agora? e o respeito fica pra quem nessa história? eu vi você lá no alto da escada. era uma luz. era um sobrado em pó. quem sabe eu me arrumo nas pernas e sigo. tua cara também não é das melhores. a massa corrida só deixa teus olhos a mostra. parabéns. quem te viu. sempre vale uma conversa. sempre simples. ao subir as escadas o limo exalava um cheiro de madeira podre. hoje eu cansei e amanhã também vou estar cansado. velho não é cansado. amanhã é outra moda. hoje é hoje.

4/08/2012

tempestade
o relâmpago separa
nossos lábios

por fim

as coisas acabam
nenhum tempo é permanente
a poesia, teus traços
desmoronamento presente.

termino minha história
como a chuva pesada
meu destino negro
é desvio na enxurrada.

3/13/2012

o gosto da carne se sente no dente
na língua fica o gosto do presente
o verão se despede
espinhos do limoeiro
me acordam do sonho

olhar para trás

quinze litros de diesel nos meus pulmões
as estradas nunca estiveram tão distantes...
acendo um fósforo e todas as faíscas rasgam a retina
meu cigarro apagou em 2007
arranco vários nacos de cera do ouvido por dia
é de cor mel e cheira a abelhas mortas
as costas agora doem toda vez que saio do banho
pesam duas toneladas nos lombos
será que um dia virá a gota?
quinze mil litros de cachaça no fígado
que ainda resiste empedrado numa das minhas costelas
o resto eu não sei

ao olhar para trás sei que ainda vejo os olhos da escuridão aproximando-se
cada voz que ouço traz um pouco de esquecimento
então sigo maltratando a casca

foi feita pra estrada esburacada!

3/09/2012

rasgo de alma

queria ter uma tesoura bem afiada
pra picotar um pouco da minha alma
plantar as sobras e ver se brotava
um pouco da mais pura calma

queria saber conversar com as coisas
me entreter, numa espécie de sonho
esquecer um pouco que sou de carne

maravilha seria ter-me em pó e poder flutuar
um fuga descente, corrente bem quente
subiria pra bem longe lá no fundo do mar

e quem sabe encontraria bem enrugada,
encharcada e cheia de estrelas do mar,
aquela minha alma triste que esqueci de plantar.

2/28/2012

mamíferos

os peitos explodem e todo o leite invade a sala,
me afogo na brancura da nuvem gordurosa
os peitos gigantes balançam ao som da tempestade
como árvores de copas pesadas flutuam no espaço
cada chapoletada de mamilo no meu corpo
me atira contra o solo lambuzado de terra e nata
rolo pelos cantos e tento evitar o próximo ataque,

desmamo!

2/21/2012

cão

das lambidas que você me deu na cara só me sobraram as lágrimas cristalizadas de uma primavera esquecida sei perder mas contentar não me interessa um puder ainda me guarda o corpo intacto e maculado e nem a raiva que tu me transmites a cada dia que passa segura o impulso de flutuar na dimensão do esquecimento.
trilho a curva estrada
debaixo de sol,
de lua estrelada
meu preço, o beijo
lábios são
apenas o começo

2/15/2012

lua cheia
amanhece unhada
pelos gatos

sonho sujo

estávamos caminhando sobre as estruturas de concreto dos prédios mais novos da cidade. o caminho estreito causava vertigem e o suor intenso que atrapalhavam o equilíbrio. éramos muitos e não conhecia ninguém. repentinamente, na passagem de um edifício ao outro, avistamos um obstáculo. era um monte enorme de merda. sua cor era intensa, marrom bem escuro e a textura muito pastosa, semi endurecida pelo tempo de exposição ao ar. as colunas de apoio ao redor do monte de merda estavam besuntadas do mesmo material asqueroso. tínhamos que nos apoiar e para isso, por a mão. fui em primeiro lugar e senti a textura escorregadia e nojenta nas minhas mãos. não dava pra sentir nenhum cheiro, mas a sensação do tato era intensa e repugnante, as mãos e o início dos antebraços estavam bastante salpicados e o suor ajudava a diluir a substância. procurei rapidamente um lugar para lavar as mãos e surgiu uma daquelas latas gigantes que se encontravam em obras antigas. estava cheia de água turva e um pouco suja. lavei as mãos com energia e os braços, mas muitos pontos haviam ressecado e eram difíceis de retirar. ficaram pontos de merda grudados nos pelos e não havia com que esfregar. não vomitei, mas a náusea era inevitável. a certeza de estar sujo me acordou.

2/09/2012

berro

eu grito sim na tua cara, seu nojento
que é pra cortar teu burro espelhamento
esse mostro que cresce cada dia
na sua mente aturdida e doentia

da tua sarna eu bebo as gotas de sangue
do teu desespero mórbido a tua mente
te quero ver sempre o mais distante
te impedir de neste mundo plantar semente

por isso grito pra você sumir
exploda o teu caminho e numa gruta
suma teu corpo e tua podre alma

e o te ver longe eu quero rir
lembrando que o maior filho da puta
não deixou legado nesta fauna.

escape

toda raiva existe pra sair
é um copo cheio que precisa transbordar
um pouco de pasto longo pra se cortar
calar fechando a boca é consentir
em perder-se em si, deixar de rir
sucumbir em desertos de fel e azedume
trancar-se no fosso pútrido de um cortume
toda raiva deve ser expelida
em socos e berros e fúria e valentia
seja humano até na doce tirania
de ser livre da raiva a cada dia.

2/07/2012

aviso número 3

tenha cada vez menos coisas
elas não nos servem de nada
doe tudo para quem gosta de coisas
fique com aquilo que é mais precisoso
e importante nesta dimensão: o corpo.
cuide dele comendo menos
e ingerindo apenas alimentos que você tocou
e que foram processados pelas suas mãos.
não aceite mais óleo de soja, não vá mais a cadeias de fast food
não comemore com pessoas empanturradas de frituras
encontre um bom alambique e compre um pouco de cachaça artesanal
pense, pense bastante nas explosões e aceite a ideia da fragmentação.

aviso número 2

coma menos comida e tome mais água
gaste menos energia, em todos os sentidos,
gaste menos energia elétrica e energia corporal,
gaste menos energia emocional e pense muito,
exija mais da sua mente que de seu corpo,
faça longas caminhadas bem devagar e pense,
pense muito e mentalize as explosões, os tsunamis,
os terremotos, as matanças e as manifestações de dor,
não se envolva, não reze, não ore, não participe de agremiações
nem de seitas e igrejas, não gaste energia com a alma,
vá para mais além e construa uma mente emancipada.

aviso número 1

não se preocupe mais com coisas pequenas
só as preocupações de proporção planetária é que importam
os bancos já trataram de aniquilar a vida humana
e de mãos dadas com a indústria nos legaram uma cegueira transparente
não haverá absolutamente nenhuma chance de sobrevivência
não se esconda, não se altere, não se comova, apenas continue
vão sucumbir aqueles que fugirem para longe no alto espaço
assim como os que nas cavernas mais profundas encontrarem abrigo
a natureza dará conta do recado e todos nós deveremos ir embora
não se preocupe com seu carro amassado
não venda nem compre mais nada e observe um pouco do céu
os bancos já são campeões em tudo, deixe a glória para eles
seja uma pessoa que sabe do fim e que convive bem com o mesmo.

2/03/2012

entardecer de roça

os mugidos chicoteiam nas folhas da mangueira, o pé de siriguela tá carregado e um monte de mutum espreita, os cachorros raspando as costelas no terrão e um monte de nuvens encostadas no canto do céu testemunham o primeiro beijo medroso. os dois já sabem que dali pra frente, é descer a serra na engrenagem. olham um pro outro e escutam os últimos murmúrios do entardecer decididos a arriscar.
barulho de galho seco
o rouco miado
do gato

2/02/2012

desequilibrado

faz dois anos
é caro
eu não conheço
entendeu
pode até ser
ninguém retornou não
eu queria um baratinho
dias pendurada no telefone
já baixou bastante
faz o que isso ai?
pode pegar
mas não tá certinho
difícil de localizar
dai eu posso fazer isso
é ruim né?
fica enchendo o saco
meu medo não é mandar
meu medo é as respostas...


(Poema Feito de Frases Soltas)

2/01/2012

roxy

cinema com pipoca nunca mais
agora é tela plana slimfit 3d caô hd
aquela historinha do ingresso e da lanterna
da musiquinha de vovô, cheirinho de bomboniere,
vestidinhos perfumados,
canelinhas batendo nos assentos da frente
agora virou relíquia

o negócio é smart e você e eu já nos conformamos
que o mundo roxy acabou.

1/27/2012

fingimento

é essa mentira que me mata. essa falta de ânimo alimentada pela falta de norte. fingimento coletivo, todos aqui fingem que trabalham, fingem que estão produzindo algo, que fazem parte de alguma coisa. não existe pertencimento algum, e os clichês rolam escada abaixo na direção do almoço filme de terror. esse desfile de roupinhas provincianas e burocráticas, esse cheiro de produto de limpeza atacado misturado com perfumes natura. quem quer saber de vocês? quem se interessa por vidinhas tão mastigadas e pobrezinhas. e no meio desse lamaçal de ossos eu aqui fingindo atividades. vou ao banheiro e vomito. saem muitas vozes e rostos nesse vômito quente e lá, absorto no ar empesteado e ácido é que me sinto vivo novamente. ao voltar para meu lugar ouço os risos e os telefones tocando e toda uma sorte de bactérias iniciam uma festa no rosto de nós todos e a cada segundo nossa vida acaba e isso nos diferencia, porque eu sei. eu sei que isso não faz o menor sentido.

1/25/2012

capital

coisa sem graça
trabalhar
pra comprar casa

vou em outra direção
ver o filho crescer
semear mais o coração

gastar um pouco contigo
viajar e te fazer
extensão de meu umbigo

criar um pouco de tudo que é sublime
arte, comida, amigos
e torcer pro meu time

viver pra pagar uma casa
tô fora, pois que
esse trauma não passa

1/24/2012

The Fighting Temeraire tugged to her last Berth to be broken up, 1838


Os quadros de William Turner são uma espécie de portal para outra dimensão. O céu, sempre cheio de um sol que pequeno, num canto do quadro, se expande e domina nossos desejos de voo, um abraço de precipício no expectador, que sincero ou medíocre, sempre procura. As tempestades e a calmaria, amálgama da realização pictórica de uma grade de sonhos, recorrentes, ideias de pluralidade e caos. Imagens que nos entregam um desespero gigantesco e que ao mesmo tempo são generosas ao nos presentear as tonalidades e mesclas das cores, degradês, formações densas de um céu praticamente rochoso e leve. Turner é o pintor que nos estapeia com chumaços luminosos de tinta e nos rasga ao meio com as ondas geladas dos mares do norte.

O quadro acima, é acima de tudo um poente. Nele está o fim. Fim de uma era representada pelo galeão apagado, opaco, rebocado pelo potente vapor. Seu deslocamento na direção do poente, a sombra que se confunde com a sombra do fim do dia, as velas presas e amarradas pela última vez. O indicativo de seu desmanche no fogo que sai da chaminé do pequeno rebocador. É o fim, mas é um fim de ouro, iluminado, o metal precioso agora é reflexo nas nuvens e no mar.
gota de chuva
brinco
na tua orelha

1/19/2012

mulher CC (funk)

mulher CC
acaba com vc (3x)

visa ou mastercard
ela quer é mastigar
você acha que é foda mas é um vacilão
as mina gosta mesmo é do seu cartão

mulher CC
acabando com vc (3x)

ela chega de mansinho, calcinha e peitão
abre a tua carteira sacando o cartão
pega bem devagarinho e agacha pra você
tu é o manezão pagando de mulher CC

mulher CC
acaba com vc (3x)

carro brinco energético e pó de guaraná
a mulher CC ela vai te esvaziar
se liga cara pálida você vai é si fudê
tu tá cercado e perdeu tudo pra mulher CC

mulher CC
acabou com vc (3x)

1/12/2012




estrelas gotejam
amor amor
uma contorcionista caindo do céu


texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



folha verde vento
de dentro pra fora
mulher com olhos de incêndio


texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus

1/11/2012




perco minhas folhas
sobre você
o orvalho evapora


texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



céu distante
peno sozinha
um vulto em janelas estranhas


texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



tarde vazia
ao meu lado
estou eu, dura e fria


texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus

1/10/2012




olhos vermelhos refletiam a lua
devorava-me aos poucos
sempre quis ser tua


texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



dentro do meu peito
um céu halterofilista
aperta para fora e dói


texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



seus lábios
secos ou doces
quero sempre machucar

texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus



derretes sobre meu ventre
luz trêmula
estrela incontestável

texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus


doces casas coloridas
lado a lado
flor pisoteada sangrando na calçada

texto: adriane bertini
ilustração: kevin kraus

1/09/2012

trinta e oito engatilhado

e a vida deu umas voltas de arame farpado no teu pescoço
que o sangue agora se mistura com a cana na goela
e uma certa lama encobre os bicos dos sapatos
como se o palhaço fosse sempre você no chap chap do salto gasto
e um monte de rios novos começaram a descer pela tua cara
vários corginhos que saem lá das maças superiores e descem na sombra da napa
e umas marcas de sol também pintanejam a fronte meio escuro branca
numa maneira de sim você embica os nãos diários
um monte de pertences que nem fazem mais cócegas lá pelos cômodos
santos misturados pra ver se ajudam no feijão
e trezentas vezes por ano aquelas duas sentadas no vaso diárias te pagam os truques
peitos do weekend só no leitinho de cabra
brindes de cristal é um tempo antigo e cavernoso, distante 3 mil
agora o bafo da tarde lambe a cacunda cheia de pelos engruvinhados
sem chefe nem marias pra correr a correria, duas da tarde lá no sol
os cacos de joelho raspam na banha da velha sentada no vime surrado
benzer-se não faz mais efeito na ardência do santo ao contrário
pó de coloral na ponta do pau pra dar saúde e parar o arrefecimento
hoje acaba ainda e não sabe de um amanhã, mesmo que por pouco.