9/13/2010

Bustos de escritores somem do largo do Arouche, em São Paulo


Ao ler a reportagem encabeçada pela manchete acima comecei a lembrar de quando morava no centro de São Paulo. Resumidamente, uma bosta! Tenho amigos que vão discordar, conheço pessoas que defendem a região e que vivem lá, respeito suas opiniões, mas não concordo com aquilo. A região da república morreu, e já está em estado de putrefação a pelo menos quatro anos. A praça foi reformada durante uns dois anos entre 2004 e 2006 e, ao ser reinaugurada por uma gestão filhadaputa, pra variar, não tinha um banco sequer para as pessoas sentarem. O lago é uma piscina de merda, cimentado por baixo e sem vida, serve até hoje de piscina de nóias, moleques de rua e mendigos. As pontes da praça servem de escora de traficantes e michês. Passar ali com seu filho é uma experiência maravilhosa! Retiraram as grades que cercavam a praça, isso é bom. Entretanto os gramados são campings improvisados daqueles mesmos que utilizam a “piscina”. Não bastasse, em 2007 o metrô iniciou suas obras e assinou o atestado de óbito. Somos o país do futuro. Eu morava ali, perto da Ipiranga com a avenida São João, no edifício Metro, em frente ao antigo cine Metro que hoje é a sede de uma igreja evangélica asquerosa, poluente e que atrai um monte de pobres idiotas que adoram enriquecer pastores gestores com vários MBAs nas costas. O Bar Brahma fica ali ao lado, passou a ser uma atração turística no meio do caos, e para sobreviver comeu 80% da calçada, cercou-se de seguranças e cobra couvert de granfino para os shows de museu de cera que repete a cada semana. As calçadas foram tomadas por nóias, a nova fase da cracolândia é a região da república. Uma multidão de mortos vivos, zumbis, anomalias, anões, crianças feias, monstros, coisas, cruzcredos se arrastando pela rua e procurando no meio fio guimbas, latinhas, qualquer coisa que dê pra fumar. Já vi uns nóias tão loucos que estavam fumando uns cocozinhos de cachorro que pareciam guimbas de cigarrilhas. Bizarro e previsível. Somos o país da copa. Entre a praça da República e o Largo do Arouche há uma avenida curta, chamada Vieira de Carvalho (viera de caralho), que de dia chega a parecer uma avenida normal mas que, a noite, se transforma numa mini babel repleta de veados, sapatões, lésbicas, bichas, transformistas, travestis, baianos, pobres, adolescentes que não apanharam na hora certa, emos, nóias, putas, michês, cafetões, taxistas e vendedores de artefatos de durepox. A rua é dominada e fica difícil passar por ali de carro ou de moto. O largo do Arouche, é o puro abandono: no lugar da grama o terrão, no lugar dos bancos a depredação, os bustos dos escritores desaparecerem pra virar crack e pó, lugar bacana pra passear com a namorada que veio do interior! E no meio daquilo tudo, uma cabine da polícia militar, que serve para dar legitimidade a situação, que serve para nos dizer que é isso mesmo que temos que viver quando decidimos morar no centro de São Paulo. A polícia está ali para apoiar as minorias, para apoiar e ajudar os traficantes e os nóias, para comer as putas sem pagar, para tirar um extra dos cafetões e dos flanelinhas e para proteger a degeneração generalizada de uma região que já foi muito legal. E quando me falam da revitalização do centro não consigo expressar o que é mais me desloca do eixo, se a ânsia de vômito que me sobe a goela ou a memória sensitiva de todo aquele lugar. Aquela região morreu, faz tempo e não há solução tranquila para o que acontece ali. Portanto, retirar-se, mudar de cidade, não passar ali nunca mais é minha sugestão. Hitler, Stalin, Fidel Castro, Ho Chi Minh e Mao Tsé-Tung juntos não dariam um jeito naquilo.

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